terça-feira, 2 de outubro de 2012

It Ladies... arrasando!

Se a idade não é bem-vinda, que ao menos chegue bem vestida. Esse é o lema das senhoras que Ari Seth Cohen, 29 anos, fotografa desde 2008 para o blog Advanced Style­ e que agora estão no livro homônimo (ainda sem tradução para o português), lançado pela editora powerHouse. 



Nunca houve uma presença tão grande de pessoas com mais de 60 anos no planeta.

Fã de old ladies que não correm atrás da juventude a qualquer preço, nem cedem à ideia de vestir-se “como convém à idade”, o jovem fotografo americano gosta tanto de observar o bom gosto dessas senhoras (e a completa ousadia de algumas) que está produzindo também um documentário sobre o assunto. “Fui influenciado pela minha avó Bluma, cuja sabedoria e ironia me ensinaram que envelhecer pode ser criativo, divertido e inspirador”, diz. Ainda criança, Cohen costumava encher seus cadernos com desenhos de mulheres elegantemente vestidas. “Quando, já adulto, mudei de Seattle para Nova York, vi meus desenhos tornarem-se realidade. Nas ruas dessa cidade maravilhosa, encontrei homens e mulheres que ainda usam luvas e chapéus. Minha avó sempre me disse que todo tipo de criatividade poderia ser encontrada aqui. O blog é uma homenagem a ela.” 



O insight para começar a fotografar as senhoras de Nova York veio após Cohen encontrar a atriz e modelo Mimi Weddell, que começou na profissão aos 65 anos. Com seu porte longilíneo, ela logo se tornou conhecida pelo estilo aristocrático e por sua paixão por chapéus — em seu closet mantinha mais de 150. “Segundo ela, isso (sair com chapéus) era ‘a coisa mais romântica da vida’. Aos 94 anos, continuava a trabalhar como modelo e estava sempre chique. Morreu três anos atrás, mas seu espírito ainda flutua no meu trabalho”, diz ele. Um dos papéis de Mimi na TV foi em Sex and the City como a mãe de Stanford, o amigo gay de Carrie Bradshaw. Na moda, participou de campanhas da Louis Vuitton, da Juicy Couture e da Burberry. Em 2005, ela foi eleita­ pela New York Magazine “a mais bonita nova-iorquina” do ano. Na ocasião, a diretora do concurso, Jennifer Venditti, ­referiu-se a Mimi como um “pacote completo”, pois era elegante, sem tentar esconder as rugas e outros sinais da idade. Exatamente o que Cohen celebra no blog.  

Há por trás do trabalho do blogueiro uma atitude política. “Eu queria capturar um segmento da sociedade que é completamente negligenciado”, diz ele. Os números mostram que ignorar a parcela acima dos 60 não faz sentido mesmo. Mais de 10% da população mundial já passou dessa idade e a previsão é que até o ano 2050 esse número triplique. “Nunca houve uma presença tão numerosa de seniors na Terra e em tão boa saúde. Não é mais possível fechar os olhos para isso”, diz Ari. Ele tem razão. De acordo com o último relatório sobre o assunto divulgado pela ONU, a população mundial cresce a um ritmo de 1,2% ao ano, enquanto entre os sexagenários esse número é de 2,6%. Algo inédito. Pela primeira vez, há mais gente envelhecendo do que nascendo. 

Aos 20, não teria me tornado modelo, só consegui enxergar minha beleza aos 40 - Tziporah Salamon


Um outro olhar Enxergar a realidade com outros olhos é o que propõem as fotos do Advanced Style: existe, sim, outra beleza possível. “São mulheres que nos ensinam a viver ao máximo. E nos fazem repensar a ideia, essa, sim, antiquada, que temos em relação ao futuro”, diz Cohen. “Não entendo porque as grifes usam apenas modelos jovens quando existe tanta beleza e experiência no rosto de uma adulta.” Ainda que de maneira tímida, a indústria fashion começa a dar sinais de que também nota as old ladies. A última campanha da Lanvin traz duas senhoras do blog de Cohen. Tziporah Salamon e Jacquie Tajah Murdock, de 62 e 81 anos, respectivamente, aparecem esplendorosas entre meninos e meninas com um quarto da idade delas. “Cresci no Harlem e sempre quis trabalhar como modelo, mas na minha época não havia espaço para mulheres negras na moda”, diz Jacquie, a senhora de 81 anos. “Finalmente, consegui e nunca vou desistir. Quem sabe um dia não desfilo em Paris?”

Muitas da mulheres imortalizadas por Cohen ainda são belas porque foram jovens maravilhosas, como Gitte Lee, uma supertop dinamarquesa dos anos 50 e 60 radicada em NovaYork, cuja foto está na capa do livro. E quem não foi bela aos 20? Pode ser bela quando mais velhas? “Muitas mulheres que entrevistei sentem — e realmente têm razão — que melhoraram com o tempo: conhecem mais o próprio corpo e o que lhes cai melhor em relação a roupas e corte de cabelo, joias e acessórios.” É o caso de Tziporah Salamon, a outra senhora que participou da campanha da Lanvin. “Aos 20, eu nunca teria percebido que poderia fazer algo assim. Não enxerguei minha beleza até os 40 anos.”


Quando se trata de estilo na terceira idade, Cohen tem certeza que nem mesmo dinheiro é preciso. “Nenhuma delas liga o estilo ao dinheiro. Muitas se arranjam até no armário do marido. Outras vão a brechós.” Tem a ver, isso sim, com a maneira de se relacionar com o mundo. É como explica a escritora alemã Beatrix Ost, 71 anos, que não tem problema em andar pelo Central Park do jeito que sua criatividade permite. “Tenho a impressão de que muita gente simplesmente desiste. É importante manter-se apaixonada e nunca, nunca dizer que não pode vestir algo por causa da idade. Tudo depende de como você se sente.” Beatrix é uma das “garotas” preferidas de Cohen. Assim como ela, a apresentadora Lyn Dell, que comanda o programa Positively Lynn, um talk show sobre moda para mulheres com mais de 40 anos exibido na TV a cabo, é também umas das personagens principais do blog. Acessórios extravagantes e cores fortes nunca faltam em um look dela. “Nós devemos nos vestir, todos os dias, para o teatro da nossa vida”, diz, com o cuidado de quem sabe como escolher o melhor figurino para cada ato.

(Fonte: Marie Claire)

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